Em 14/05/2017, no RI 14), a Associação de Combatentes do Concelho de Arganil esteve representada nos convívios de antigos militares, em Mangualde e Vila do Conde e ultimamente, na festa da Associação de Comandos (Delegação de Viseu). Nesta presença foram proferidas palavras de circunstância pelo seu presidente, Manuel Magalhães e em seguida também o antigo oficial da 5.ª Companhia de Comando na Guiné, António Fernandes Pinto Morais, na leu o seu discurso, que dada a sua importância, aqui se transcreve:
Sinto-me feliz por celebrar hoje convosco este 37.º aniversário da nossa Delegação. É por tal motivo mais do que suficiente para aqui expressar os nossos PARABÉNS a todos quantos contribuíram para atingir esta meta. Mas por outro lado sinto-me tão orgulhoso por fazer parte desta comunidade. E sabem porquê?
Porque os Comandos constituem uma comunidade com uma identidade própria, que se integra numa comunidade social mais vasta: UM POVO.
Uma comunidade com símbolos: O código, o crachá, o estandarte, a boina vermelha, são alguns dos mais representativos.
E obviamente sem deixar de sublinhar, o conhecimento, a consideração, o orgulho e o respeito pelos dois ícones representativos deste Povo: a Bandeira de Portugal e o Hino Nacional.
E a nossa história, construída por milhares de operacionais, merecedores dos mais elevados elogios, reconhece-os como os melhores combatentes, “que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando”.
E aquela simbologia que caracteriza uma identidade, expressa-se no Código Comando, na exaltação dos valores:
“O Amor à Pátria”. “O Amor ao trabalho”. “O espírito de sacrifício”. “A prática da camaradagem”
“A prática da solidariedade”. “A Afirmação de pessoa de carácter leal e determinado”
“A Recusa da indignidade e da mentira”. “A exaltação dos que lutaram e venceram os obstáculos”
“O servir sem preocupação de paga”. “O cumprimento da missão”
Depois, não há ex-Comandos. Só Comandos. Nas fileiras e fora delas. No activo e na reserva. Uma vez Comando é-se sempre Comando.
Os Comandos são homens que, ficaram para sempre ligados entre si, porque se identificam com determinados princípios.
É um processo imparável, independente da vontade deste ou daquele elemento do grupo. É sabido que os grupos atingem maior ou menor importância social, em resultado do desempenho de alguns dos seus membros, que pelas suas características, podem incutir (ou retirar) maior dinâmica ao próprio grupo. Os símbolos formam-nos num grande colectivo, uno coeso e forte.
Um frémito percorre o nosso corpo ao vermos ou ouvirmos um dos símbolos que gravámos no nosso ego. Quando sentimos esta emoção, sabemos que pertencemos ao grupo.
Acontece o mesmo quando vemos uma miniatura do crachá numa lapela, um autocolante colado no pára-brisas, uma tatuagem no braço ou ao ouvirmos o grito MAMA SUME.
E mesmo afastados de um convívio frequente ou desenquadrados das estruturas formais – Batalhões, Companhia, Associação, fazemos parte deste grupo.
Há um sentimento de pertença ao grupo, mesmo quando nos afastamos da estrutura ou quando nos afastam (expulsão). Um Comando será sempre, para si próprio e para os outros um Comando. O Frémito permanece. Já transcende a racionalidade. É do exclusivo domínio das emoções.
Numa religião chamar-se-ia a ISTO crença. Num partido convicção. Num grupo como os “Comandos” como se designará?
Nesta comunidade alcança-se a maioridade. Anteriormente conhecemos a existência do grupo, respeitamos, a sua “áurea” a sua “mística”, desejamos ser um “deles”. A entrada é altamente exigente, muitas vezes até violenta. E é nesse clima de tensão levado ao extremo que gravamos a nossa simbologia. Na quente, prova de fogo moldamo-nos e moldam-nos. Participámos nos ritos de passagem. Já não voltaremos ao ponto de partida, após as experiências dos teatros operacionais. A viagem não tem regresso. Entranha-se. Interioriza-se e define-se: “Quero e Posso”.
E nesta viagem sem regresso, chegámos melhores mas diferentes. A intensidade física e psicológica do Curso de Comandos, individualiza-nos e distingue-nos. Assim nos temos formado nos últimos 50 anos. Razão porque os Comandos se tornaram num “grupo social” forte e respeitado na comunidade em que se integram. Porque, em caso de ameaça à nossa soberania, em tempo de crise de valores, do desmoronamento social, da desunião, e da fragilização dos grupos (se bem que continuem activos os grupos corporativos na defesa dos seus interesses profissionais, políticos ou económicos) ou em que os grupos se transformam em turbas animistas (como as claques dos clubes), os Comandos permanecendo vinculados à defesa dos seus ideais, intervêm e participam quando necessário, sem que para tal tenham de ser convocados. A sua identidade simbólica é a chama que nunca se apaga e o estímulo que nunca enfraquece.
Aqui reside o “Mistério”, pois os “Comandos” sem os seus símbolos perderiam a sua verdadeira identidade.
Razões porque se afirmam, e não se importam que alguém lhes diga “tu sabes vencer, mas não sabes tirar proveito da tua vitória”.
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