Nunca será demais salientar aqueles que tudo fazem para acudir ao sofrimento que alguns Combatentes do ex-Ultramar Português contraíram com as guerras nele desenroladas, sobretudo o chamado Stress de Guerra, não falando dos mutilados, já que dos mortos esses nada sentiram ao longo destes anos, a não ser a dor pungente que deixaram aos familiares, perdendo um ente querido em plena flor da idade.
Ainda bem que, aqui e acolá, apareceram grupos que, passando a Núcleos, souberam progredir e chegar à formação de Associações. Posteriormente, com a criação de Federações, que passou a englobar Associações espalhadas pelo país, como é o caso da Associação de Combatentes do Concelho de Arganil, vê o seu estatuto mais fortalecido, já que a Federação Portuguesa das Associações de Combatentes passou a ter assento no Conselho Consultivo de Apoio aos Antigos Combatentes.
No meio de tudo isto, porém, há que referir a força que alguns combatentes, embora na casa dos cinquenta, sessenta ou setenta anos mesmo, ainda possuem no seu coração a força anímica para fazer coisas a fim de ajudar o seu camarada que, por infelicidade, não conseguiu sair ileso dessa guerra de 14 anos.
Pois bem, Tondela, uma cidade ainda jovem, tem no seu seio duas instituições que marcam a diferença dentro daquilo que atrás se escreve: a Associação e a Federação de Combatentes.
Pode dizer-se que todo esse desenvolvimento se deve a um camarada que ao longo de anos se vem debatendo para que o sonho social em ajudar os outros viesse a concretizar-se. Chama-se António Ferraz, um advogado muito conceituado na praça de Tondela.
Se na celebração do 28.º aniversário da Associação, ocorrida no dia 12 de Setembro de 2010, foi posta mais uma vez a claro o arrojo e a tenacidade deste tondelense, não passou despercebida também, com forte ênfase, a colaboração estreita que a Associação de Tondela tem recebido da parte do Presidente da Câmara, Dr. Carlos Marta. Primeiro, a construção do Monumento em memória dos 49 soldados que perderam a vida em combate; segundo, a entrega do edifício da Escola Primária Conde Ferreira, através da assinatura de protocolo, para ali funcionar a sede; terceiro, a ajuda incondicional que o autarca irá dar no presente, tendo em vista o futuro, com a edificação de um Posto Médico, sedeado na retaguarda da sede da Associação, onde serão, a partir de Janeiro de 2011, recebidos e apoiados os Combatentes que sofrem de stress de guerra e posteriormente, anunciou o Presidente da Associação, o carro poderá avançar mais transportando boas-novas, como seja o apoio total aos Combatentes que em vez de se deslocarem ao Centro de Saúde para serem consultados, onde permanecem horas e horas a fio para serem atendidos, podê-lo-ão fazer no Posto Médico ora inaugurado.
Como disse na sessão solene realizada no Auditório Municipal, Carlos Marta não só afirmou que via com orgulho e honra a sua cidade ser o centro dos Combatentes de Portugal, afirmando que “apesar de todas as dificuldades, vocês são todos o bom exemplo, porque nunca deixaram cair os braços e é dentro desses exemplos que temos de encontrar um novo país”. Tondela é um concelho solidário, e neste âmbito evidenciou a obra que o Dr. Ferraz está a desenvolver, desenvolvimento que passa também, segundo o autarca, por uma cidade mais alegre, onde a requalificação urbanística e o ambiente social e económico, são pedras basilares que vão fazer de Tondela um concelho ainda mais reluzente em terras da Beira Alta.
Na sessão solene referida participaram ainda diversas entidades, entre as quais o representante do Governador Civil de Viseu, o General Aníbal Flambó, ligado ao Ministério da Defesa na área do apoio ao Combatente, Tenente-General Chito Rodrigues, da Liga dos Combatentes e Dr. Barroso da Fonte, que foi um dos fundadores da Associação. Porém, seria o Presidente da Assembleia-Geral da Associação de Combatentes local, Dr. Tenreiro da Cruz, a par das palavras dos oradores antecedentes, a ter um discurso bastante inflamado, onde afirmou a dado passo: “…é obrigação de Portugal reconhecer os sacrifícios que todos estes jovens fizeram por Portugal. Tardou, mas é com grato prazer que agora já se verifica haver um repensar sobre a Guerra do Ultramar. Já se ouvem alguns políticos, talvez com intenções muito próprias, que se orgulhavam de lutar contra a ditadura e por isso se orgulhavam de terem desertado, fazerem questão de afirmarem que foram Combatentes no Ultramar”. Se a vida militar para a maioria “foi uma escola de virtudes e de aprendizagem”, hoje, salvo raras excepções, “os jovens não são solidários, pois não aprenderam os valores da camaradagem”. E finaliza assim o Dr. Tenreiro da Cruz: “Hoje a Pátria é o dinheiro e se for fácil melhor”, deixando ainda este gesto de agradecimento ao Dr. António Ferraz, Presidente da Direcção da Associação: “Porque ele é o exemplo do Homem que é solidário e que se sacrifica pelos outros e em defesa dos outros, sem interesses quer pessoais, quer patrimoniais”.
As cerimónias prosseguiram, com a celebração da eucaristia, na Igreja do Carmo, mas antes já havia acontecido a romagem ao Monumento, onde foram depositados ramos e coroas de flores, não faltando o cantar do Hino Nacional. A finalizar este dia de convívio, que só o Combatente sente de uma forma muito especial, teve lugar o almoço e depois na sede da Associação a confraternização prosseguiu.
Apraz acrescentar que a Associação de Combatentes do Concelho de Arganil esteve representada com o seu estandarte e com os directores Leonel Costa, José Travassos de Vasconcelos e Artur Manuel Travassos Correia.
Refira-se ainda que às Associações representadas foi oferecido um lindo quadro, em barro de Molelos, com uma inscrição a marcar o 28.º aniversário da Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar.