O Combatente é imortal
Saí da minha terra
Um jovem na flor da
idade
Como tantos de vocês
Defendi a Pátria com
vaidade.
Foi em Qanquelifá
Que apanhei o acidente
Numa grande emboscada.
O trauma ficou para
sempre.
Consegui sobreviver
Com algumas sequelas
Mas todos têm de estar
gratos.
As esposas que são
elas.
Elas que nos dão alento
Em horas de algum
sofrimento
Mas lembrando a família
Fica mais leve o
momento.
Somos todos Combatentes
Sem arma tanto me faz
Espero que no futuro
Consiga haver mais Paz.
O Combatente está
activo…
E a esposa deste Combatente Zé Almeida, folquense,
Dalila
Almeida, vai mais além com a sua escrita:
Todos quantos podem
estar presentes fisicamente nestes convívios, sabem o quanto é importante
saber, que o Combatente está activo. Digo e bem no meu concelho, que é Arganil,
não é por acaso que há gente hospitaleira, que sabe receber, receber com
amizade. Alguns mais frágeis da sua capacidade humana que se foi degradando ao
longo dos anos, tendo como motivo a sua estadia em África, essa mesma África
que lhes ficou na memória e vivência para sempre.
O Combatente é imortal.
Será sempre lembrado.
Pertencemos a uma
geração de ouro
Amândio Rodrigues Coelho, de Meda de Mouros, um fuzileiro na
Guiné, também disse de sua justiça, contando as agruras que passou em combate:
Caros Combatentes:
Vocês, tal como eu, combatemos na Província da Guiné. Pertencemos a uma geração
de ouro porque tivemos a honra e o privilégio de defender a Pátria. Fui
Fuzileiro, ou melhor, sou Fuzileiro, porque Fuzileiro uma vez, é Fuzileiro para
sempre. Fiz na Guiné duas comissões de serviço, integrado em Destacamento de
Fuzileiros Especiais de 1965 a 1970. Agradeço à Associação de Combatentes do
Concelho de Arganil a organização deste encontro.
Naquela Província
calquei muito capim, furei matas quase intransponíveis, sofri na pele os
horrores da guerra; e digo horrores porque só quem esteve dezenas de vezes
debaixo de fogo intenso sabe avaliar o que isso é. Caminhar horas a fio debaixo
de um calor tórrido, com fome e sede, enfrentar tornados com chuva diluviana,
relâmpagos e trovões, navegar em rios estreitos infestados de crocodilos, em
simples botes de borracha, quer de dia quer de noite, atravessar pântanos onde
era posta à prova toda a capacidade humana, quer física, quer psicológica, até
ao máximo dos limites, tudo isto, muitos de nós, passámos na Guiné.
Apesar de tudo isso,
sinto no meu coração cada vez mais saudades enormes dessa terra, que eu aprendi
a Amar, que eu chamo de minha querida Guiné. Constato, no entanto, que todos
esses sacrifícios foram em vão, por ver a forma vergonhosa como foi feita a
descolonização. Quem afirmou um dia que se tratou de uma descolonização
exemplar, devia dizer ao povo o que aconteceu aos Africanos que combateram ao
nosso lado! Os que não conseguiram fugir foram fuzilados. Quero aqui prestar
homenagem aos Fuzileiros de raça negra: João Lama, Dinis Dias, Califa e tantos
outros que eram nossos guias e que com a debandada dos portugueses foram
abandonados, torturados e fuzilados.
A esta mesma hora a
Associação de Combatentes de Tábua, da qual sou membro da direcção, organiza um
almoço para festejar mais um aniversário. Era lá que eu devia estar, mas depois
de muito ponderar decidi vir aqui por uma razão muito simples: conhecer
pessoalmente e poder abraçar um homem que há muito conhecia por aquilo que lia
e ouvia falar dele. Trata-se do Tenente-Coronel Marcelino da mata, um grande Homem
e um grande Militar, é para mim um verdadeiro Herói Nacional.
Foi sem dúvida um dos
militares mais ilustres, destemido e temido de quantos combateram e operaram
num teatro de guerra bastante adverso, como foi a guerra na Guiné. Pela
experiência que tive, posso afirmar que o Tenente-Coronel Marcelino da Mata foi
um militar guerreiro, estratega e destemido do melhor que as nossas Forças
Armadas tiveram: Ostenta no seu peito Cruzes de Guerra de 3.ª e de 2.ª Classe,
três de primeira classe e a mais alta condecoração que é atribuída a um
militar, a Ordem Militar da Torre e Espada. Louvores foram às dezenas. Só um
militar de grande envergadura e de grande coragem é merecedor de tantas
distinções.
Participou juntamente
com esse também grande militar, que foi Alpoim Galvão, na operação «Mar Verde»,
operação de alto risco, que consistia entrar na Guiné Conakry, a qual, para
além de destruir certos alvos, tinha por missão libertar, assim como libertaram
das masmorras do P.A.I.G.C., naquele país, 26 prisioneiros de guerra, que em
condições desumanas ali permaneciam há vários anos.
Estamos em presença de
um grande Português e de um grande Herói, que soube honrar Portugal e as Forças
Armadas Portuguesas. Parabéns, Sr. Marcelino da Mata e muito obrigado por tudo
aquilo que fez por Portugal.
Arganil, 25-10-2005