A Companhia 1054 («Nós ou
Ninguém») vai diminuindo
Fez 48 anos no passado mês de Novembro (1966), que o Batalhão
1878, depois de Santa Margarida, zarpou de Lisboa com destino a Moçambique, com
espírito de missão pátrio. Tendo como destino Zambézia, com alguns meses de
permanência, o Batalhão seguiu para Nangololo, em pleno Vale dos Macondes. A
sede ficou instalada na antiga missão, enquanto as Companhias 1052 ficava em
Miteda e a 1504 se instalava em Miudumbe, no distrito de Cabo Delgado. Antes de
regressar à Metrópole, no final de 1967, a Companhia foi aquartelar-se em
Montepuez e em Fevereiro de 1968 saiu daqui em direcção a Porto Amélia e dali
em paquete, disseram adeus a terras moçambicanas e chegaram quase um mês depois
ao chão pátrio: Lisboa.
Após de 48 anos o toque
a reunir foi em Coimbra
Se o Batalhão todos os anos tem reunido as suas tropas, nem
todas, como é de calcular, porque alguns já não fazem parte dos vivos, a
Companhia 1504 tem sido excepção, porque individualmente escolhe duas datas
para se reunir todos os anos. Uma em Lisboa, e outra fora da capital, em local
a designar.
Este ano, a organização destinou Coimbra como local de
operações. Os que vieram da zona do Porto e Lisboa, de comboio, juntaram-se aos
restantes da zona de Coimbra. E foi no passado dia 20 de Novembro passado,
naquela linda cidade, tendo como palco a sede da Delegação da Liga dos
Combatentes, na Rua da Sofia, que lhes foi servido o rancho, nada mau, por
sinal, pois teve como prato leitão assado.
No meio da alegria entre uma vintena de rijos combatentes,
não podia deixar de haver quem recordasse os tempos difíceis daquela altura; e
o Arão, anotando alguns tópicos, recordou aqueles terríveis cinco dias loucos,
de Mabo (Zambézia) a Muidumbe, sofrendo a coluna, logo à saída de Moeda, um
ataque de abelhas e entre tantos outros ataques que sofremos, recordou a ida à
água para os blocos… e aquele que, vindo de Moeda, onde foram abastecer-se,
mesmo à entrada do quartel, escoltados por aviões, «fomos atacados e ficámos
cercados pelo fogo» e por esse facto, o comandante pediu aos condutores para
que nos salvássemos, pois cada viatura levava dois bidões de gasolina».
Recordou também aquele dia de muita dor e sangue, sofrido com ataque de leões,
em Agosto de 1967… Em termos de alimentação, recordou os pratos fortes da
altura: arroz de salsicha e dobrada brasileira. Mas quando lá chegou peixe
fresco e se estava a saboreá-lo com arroz… nisto começa a cair fruta da grossa
(morteirada e rajadas de metralhadora)… Mas o episódio mais triste «foi quando
o nosso comandante nos chamou para nos dizer que o nosso amigo Ernesto Garcia
de Oliveira («O Bairro Alto») tinha morrido… e começou a chorar…». E todos, em
sentido, com lágrimas nos olhos, recordaram-se os que já nos deixaram:
Carneiro, Rodrigues, Cordeiro, Beja, Xeta, Dácio, Paço d’Arcos, Fidalgo (de
Penalva de Alva), Mariano, Marrinho, Barreto, Dantas Batista (padeiro) e outros
que não sabemos.
Desta Companhia, da região, fazia parte não só o Fidalgo, mas
também o Manuel Tomé, de Amoreira (Pampilhosa da Serra), José Vasconcelos
(Arganil) e de Coimbra, entre outros, o Pinto Ferreira. Também o Zé Rodrigues
(o Cintra), que foi casado em Arganil, faz parte do grupo, bem como o Portugal,
que casou no Barril de Alva.
No final do almoço, foi tirada a foto da família e com ela
tocou a dispersar, pois todos tinham que seguir os seus destinos, já que o
comboio não esperava. O abraço forte entre todos foi marcante, sem que uma
lágrima, cada um, não tivesse vertido. Entretanto, foi recebido um telefonema
do nosso comandante Jónatas, que não podendo estar presente, por motivos de
saúde, em voz alta deixou palavras de muita amizade e de incentivo para que
estes convívios jamais acabem, pois estará sempre, como no passado, com todos e
para todos deixou um abraço de grande comandante que foi e que continua a ser
considerado e estimado.
Ficou decidido que o convívio de 2014, fosse organizado em Arganil. E os organizadores indigitados vão fazer os possíveis para que esta união se mantenha e os verdes anos sejam recordados com intensidade, mas também com saudade… apesar de tudo. E tudo se irá conjugar para que esta Companhia venha assistir ao aniversário da Associação de Combatentes do Concelho de Arganil, no Mês de Maria.
JOSÉ VASCONCELOS