quinta-feira, 29 de abril de 2010

MARÉS & MARINHEIROS

NAVIOS DE CIMENTO ARMADO

Num navio, o “casco” é o seu corpo principal, constituído pelo invólucro exterior que vai desde o fundo (a “quilha”) até ao cimo (a “borda”). Ora os cascos podem ser de madeira, ferro, aço, alumínio, fibra de vidro e…até, cimento, imagine-se, tal como a construção de um prédio (pilares, placas).

De decorrer da I e II Guerra Mundiais as dificuldades, em encontrar ferro e aço para a construção dos navios, eram enormes, daí que se tivesse enveredado pela construção dos cascos em cimento armado, isto é, estrutura ligeira em ferro com um emaranhado reticular de vergas e verguinhas, consolidadas com a projecção de massa de cimento. Contudo, data de 1848 a construção da primeira embarcação de ferrocimento, realizada pelo francês Jean-Louis Lambot e apresentada na Exposição Universal de Paris de 1855.

Durante a I Guerra Mundial, nos Estados Unidos, a United States Fleet Corporation, utilizando uma patente norueguesa, desenvolveu a construção de embarcações oceânicas de concreto leve de modo a substituir o aço, então material escasso. Assim, em 1918, foi construído o “Atlantus”, de 3.000 toneladas, e no ano seguinte foi lançado à água o “Selma”, um navio-tanque de 7.500 tons, num total de 12 novas construções em cimento armado. Na II Guerra Mundial, o número de navios construídos em concreto (ou cimento armado) elevou-se a 24 unidades.

Em Portugal, a indústria do cimento iniciou-se, em 1894, com a abertura da fábrica Cimento Tejo, em Alhandra e, em Viana do Castelo localizou-se o estaleiro da Moderna Construtora Naval, situado a montante da hoje velha metálica Ponte Eiffel onde, em 1920, foi construído o primeiro pontão flutuante em cimento armado, o “Gigante”, destinado à Galiza.

Voltando ao “Selma”, navio-tanque americano construído em 1919. Em Maio de 1920 encalhou no molhe sul de Tampico (México). Foi então rebocado para Galveston (Estados Unidos – Golfo do México) e abandonado na ponta leste de Pelican Island, em 1922. Em 1926, durante a Lei Seca, os porões do “Selma” foram utilizados para a destruição de bebidas alcoólicas de contrabando que foram apreendidas.

Noventa anos após o seu lançamento à água, o velho casco e a proa do “Selma” apresentam o aspecto que a foto ao lado permite observar – por detrás do cimento desaparecido a rede de enferrujadas verguinhas de ferro, à vista.

Eduardo Gonçalves



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