segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A História dos Aerogramas Militares

O sequestro do navio Santa Maria, à época o mais importante da Marinha Mercante Portuguesa, ocorrido em 22 de Janeiro de 1961, o assalto em Luanda à Casa de Reclusão e à Esquadra da PSP, em 4 de Fevereiro e posteriormente, o início das atrocidades cometidas pelos guerrilheiros da União das Populações de Angola - UPA contra as populações do Norte de Angola, em 15 de Março de 1961, fizeram despertar em Portugal um movimento patriótico de solidariedade entre um grupo de mulheres.

Propunham-se prestar apoio aos desalojados e repatriados de Angola, às famílias e aos militares expedicionários que entretanto eram mobilizados para o Ultramar, em defesa do território nacional.

Nascia assim, em 28 de Abril de 1961, o Movimento Nacional Feminino (MNF) que conforme constava nos seus Estatutos era independente do estado e não continha cariz político.

No artigo 1º dos Estatutos do M N F, estão definidos os seus objectivos: “O Movimento Nacional Feminino é uma Associação com personalidade jurídica, sem carácter político e independente do Estado, que se destina a congregar todas as mulheres portuguesas interessadas em prestar auxílio moral e material aos que lutam pela integridade do Território Pátrio”.

Esta organização, chegou a congregar cerca de 82 000 mulheres, distribuídas pelas suas estruturas em Portugal e nas Províncias Ultramarinas. O MNF foi responsável pela edição de um jornal mensal chamado “Guerrilha”, uma revista intitulada “Presença” e uma emissão de rádio com o título “Espaço”.

Organizou, logo desde Dezembro de 1961, o “Natal do Soldado”, espectáculos para os soldados, esteve presente nos cais de embarque a prestar apoio às tropas e fez deslocar com frequência, as suas dirigentes em visita, aos militares em combate. Desenvolveu um serviço de madrinhas de guerra, que em 1965 contava já com 24 000 inscrições.

O MNF, para além destas actividades, mantinha um serviço bem organizado de distribuição de diversas lembranças aos militares expedicionários.

Cerca de um mês e meio após a formação do MNF, começaram as iniciativas desta instituição para a concessão de isenção de franquia postal, para os militares expedicionários e suas famílias, o que veio a ser concretizado com a publicação da Portaria 18 545, de 23 de Junho de 1961 assinada pelo Ministro das Comunicações e do Ultramar.

Estabelecia a referida portaria, que ficavam isentos temporariamente do pagamento de porte e sobretaxa aérea, as cartas e bilhetes postais com correspondência de índole familiar, que fossem expedidos para qualquer ponto do território português, pelo pessoal dos três ramos das forças armadas ou das corporações militarizadas destacadas nas Províncias Ultramarinas, bem como, os expedidos do continente e ilhas adjacentes para aquele pessoal, pelos seus familiares e madrinhas de guerra.

O MNF deu assim corpo a uma das suas mais importantes e conhecidas iniciativas, a emissão dos aerogramas militares.

Com o acordo entre a Administração Geral dos Correios, Telégrafos e Telefones (CTT), Correios, Telégrafos e Telefones do Ultramar (CTTU) e o Secretariado Geral da Defesa Nacional, foi por este distribuída a circular número 1956 / B, de 4 de Agosto de 1961, que regulamentava o uso dos aerogramas.

Seriam impressos carta, constituídos por uma folha de papel, com o peso máximo de 3 gramas, dobrável em duas ou quatro partes, de modo que as dimensões resultantes da dobragem dos aerogramas não excedessem os limites máximos de 150 x 105 mm e mínimo de 100 x 70 mm.

Na frente, reservada às indicações do destinatário, seriam impressas as seguintes inscrições:

- No ângulo superior direito do aerograma inscrição “CORREIO AÉREO / ISENTO DE PORTE E DE / SOBRETAXA AÉREA / Portaria nº. 18 545 de 23-6-61”

- Em baixo, “É PROIBIDO INCLUIR QUALQUER OBJECTO OU DOCUMENTO O DEPÓSITO NO CORREIO É FEITO EM QUALQUER ESTAÇÃO DOS CTT ”.

No verso, seriam impressas indicações referentes ao remetente. Neste espaço era obrigatório indicar, a seguir ao nome do militar, o seu posto e número.


Portugal. 1961 - Agosto

Aerograma impresso na Tipografia Labor, em Lisboa. Encomenda efectuada a 25-7-1961, e entregue entre 2 e 8 de Agosto do mesmo ano. Papel azul de 50 g/m2, fornecido pela Fábrica da Abelheira - Tojal. Filigrana em letras abertas, em duas linhas: GRAHAMS BOND / REGISTERED 147 x 42 mm. Dimensões do aerograma 280 x 172 a 174,5 mm. Peso 2,5 a 3,0 gr. Impressão a preto. Linhas da direcção e de dobragem formadas por tracejado fino. Sem indicação do nome da tipografia e sem data. Apresenta um erro de ortografia em que a palavra PROÍBIDO foi escrita com acento agudo no primeiro I.


No movimento de correspondência do Ultramar para a Metrópole, os aerogramas eram entregues nos respectivos Comandos ou em mão em qualquer estação dos CTTU e no sentido inverso eram entregues nos CTT. Nos dois sentidos, o transporte era sempre efectuado por via aérea.

Foi também prevista a emissão de bilhetes postais, que teriam as mesmas dimensões que a frente dos aerogramas sendo esta dividida ao meio. A metade da direita seria reservada às indicações do destinatário e a metade esquerda reservada ao remetente.

Estes bilhetes postais, apesar de programada a sua emissão, nunca chegaram a ser emitidos.

Ao MNF foi concedida a responsabilidade da impressão e distribuição dos aerogramas militares - inteiros postais isentos de franquia.

Com o objectivo de satisfazer rapidamente, as necessidades dos militares expedicionários em papel de escrita isento de franquia, o MNF encomendou o fabrico de aerogramas a duas tipografias de Lisboa.

A Tipografia Labor, de José Nogueira Durão, situada na Rua do Barão, nº 31 onde foram impressos, a partir de 25 de Julho de 1961, um total de 200 000 aerogramas entregues entre 2 e 8 de Agosto do mesmo ano (Fig. 1).

Na Tipografia Orbis - Edições Ilustradas Lda. situada na rua da Praia do Bom Sucesso nº. 21, foram impressos dois milhões de exemplares, a partir de 28 de Julho (Fig. 2).

Os primeiros aerogramas editados pelo MNF, foram impressos em papel azul pálido, fornecido pela Fábrica da Abelheira. A partir de Março de 1962, passaram também a ser impressos aerogramas em papel amarelo, (Fig. 5) e que eram destinados ao uso exclusivo no sentido Ultramar - Metrópole, enquanto que, os aerogramas impressos em papel azul, deveriam ser utilizados no sentido inverso, Metrópole - Ultramar.

No entanto, devido à carência de aerogramas nem sempre esta regra era cumprida.

Apesar do grande esforço feito pelo MNF, para satisfazer as solicitações sempre crescentes do número de aerogramas, nem sempre este objectivo foi conseguido.

No Continente, a aquisição dos aerogramas era feita ao preço unitário de 20 centavos. Os aerogramas podiam ser vendidos ao público na sede do Movimento Nacional Feminino, Rua Presidente Arriaga nº 6, 1º em Lisboa, nas Delegações Distritais e Concelhias do MNF, nas Juntas de Freguesia, no Serviço Nacional de Informação (S N I), nos Postos de Turismo do aeroporto e das estações marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos e em todas as Juntas e Comissões Municipais do Turismo do País.

A primeira entrega de aerogramas ao MNF, teve lugar no dia 2 de Agosto de 1961 e, no dia 8, seguiram 8000 impressos para as suas Delegações Distritais, entretanto já em funcionamento. Nesse mesmo dia, e por via aérea utilizando os Transportes Aéreos Militares - TAM, seguiram para Angola os primeiros 101 000 aerogramas.


Portugal. 1961 - Agosto a Novembro

Impresso na Tipografia, Orbis – Edições Ilustradas, Lda situada na Rua da Praia do Bom Sucesso Nº 21, Lisboa. Papel azul de 50 gr/m2, da fábrica da Abelheira com impressão a preto. Dimensões semelhantes aos anteriores, impressos em “off-set”. As linhas da direcção e de dobragem são formadas por um traço contínuo. Filigrana GRAHAMS BOND / REGISTERED. Peso 2,6 a 3,1 gr. Ao contrário do aerograma anterior, a inscrição CORREIO AÉREO / ISENTO DE PORTE E DE / SOBRETAXA AÉREA / PORTARIA Nº 18545, DE 23 DE JUNHO DE 1961, está envolvida por um rectângulo.

Indicação do nome da tipografia na aba direita ORBIS-EDIÇÕES ILUSTRADAS, LDA. – 8-61


Portugal. 1961 - Agosto

Aerogramas semelhantes ao anterior, mas com inscrições de publicidade na pala do fecho. São conhecidas sete tipos diferentes de publicidade: Banco de Angola, Companhia Colonial de Navegação, Ecomar, Estaleiros Navais do Mondego, Estaleiros Navais de Viana do Castelo, Gazcidla e Sacor.


Portugal. 1961 - Dezembro

Emissão de Natal. Aerograma semelhante aos anteriores, mas de menores dimensões: 243 x 168 mm. Papel branco ou ligeiramente amarelado, sem filigrana, impresso a preto. Gravura polícroma alegórica ao Natal, impressa no interior, representando soldado com criança indígena à esquerda e cena da Natividade à direita.


Portugal. 1962 - Março

Foram impressos nesta data os primeiros aerogramas em papel amarelo, em regra geral destinados exclusivamente ao uso dos militares expedicionários, enquanto que, os de papel azul eram vendidos aos que, com eles se correspondiam. Esta variedade apresenta, pela primeira vez, um rectângulo, com 45,0 x 16,0 mm no canto inferior direito da aba direita com a inscrição: Responda também num aerograma / à venda na sua Junta de Freguesia. / Preço $ 20 (isento de franquia postal). Nome da tipografia ORBIS-EDIÇÕES ILUSTRADAS, LDA. – 3-62

Os Comandos Chefes e Comandos Militares no Ultramar, estavam autorizados também, a mandar imprimir e distribuir aerogramas, com as mesmas características dos editados pelo MNF, se disso tivessem necessidade, o que veio a acontecer logo em Agosto de 1961 em S. Tomé e Príncipe (Fig. 6), no final de 1961 no Estado da Índia (Fig. 7), em 1963 em Timor (Fig. 8) e por várias vezes em Angola (Fig. 9) e Moçambique (Fig. 10 ).

Também, a Comissão de Assistência ao Soldado Açoreano (C.A.S.A.) mandou imprimir os seus próprios aerogramas (Fig. 11), com modelo semelhante aos do MNF, e que distribuía aos soldados Açoreanos em serviço no ultramar.

Neste breve apontamento sobre os aerogramas militares, são apresentados apenas alguns exemplares, editados quer pelo MNF quer pelas Chefias Militares, nas diferentes Províncias Ultramarinas.

Como é do conhecimento da maior parte dos interessados nesta matéria, estão já identificados várias centenas de exemplares diferentes, pelo que para um estudo mais profundo se aconselha a consulta do catálogo de aerogramas militares


São Tomé e Príncipe. 1961 - Agosto

Aerograma editado pelo Comando Militar de São Tomé e Príncipe, impresso a azul, sobre papel creme, sem filigrana. Peso 2,7 gramas. Impresso na Gráfica de S. Tomé Lda. Dimensões: 281 x 182 mm.

Inscrição EXECUTADO NA GRÁFICA DE S. TOMÉ - 10. 000 EX. Na pala, a inscrição EDIÇÃO EXCLUSIVA DO COMANDO MILITAR DE S. TOMÉ E PRÍNCIPE. Trata-se do único aerograma militar que conhecemos, em que foi impresso o número de exemplares emitidos.


Índia Portuguesa. 1961

Aerograma editado pelo Comando Militar do Estado da Índia, de cor azul esverdeado, impresso a preto. Sem filigrana. Peso 2,3 gr. As linhas destinadas à direcção e ao remetente são constituídas por ponteado fino. Dimensões 275 x 171 mm. Inscrição na frente do aerograma: Forças Armadas (24,5 mm) / Estado Português da Índia (40 mm) / (Serviço Postal) 22 mm.


Timor. 1963

Aerograma de cor cinzento azulado impresso a preto. Filigrana EXTRA STRONG.

Peso 3,1 gr. Sem inscrição do nome da tipografia ou data. Dimensões 276 x 172 mm.

Inscrição, É PROÍBIDO INCLUIR QUALQUER OBJECTO OU DOCUMENTO. O DEPÓSITO NO CORREIO É FEITO EM MÃO EM QUALQUER ESTAÇÃO DOS CTT, com 129 mm.

Inscrição, ESPAÇO TAMBÉM PARA CORRESPONDÊNCIA nas abas laterais, com 43 mm.


Angola. 1964 - Janeiro / Fevereiro

Aerograma impresso na Tipografia Gráfica Portugal, Lda, em Luanda - Angola.

Papel cinzento sem filigrana, impresso a preto. Inscrição do nome da tipografia na aba direita em baixo Gráfica Portugal, Lda. – Luanda. Peso 2,6 a 2,8 gr. Dimensões 280 x 172 mm. Pala do aerograma com quatro linhas: “O transporte deste aerograma é uma / oferta da T. A. P. aos soldados de Portugal” EDIÇÃO EXCLUSIVA DO MOVIMENTO NACIONAL FEMININO / GRÁTIS PARA AS FORÇAS ARMADAS PORTUGUESAS EM SERVIÇO NO ULTRAMAR


Moçambique. 1968

Aerograma editado pela Região Militar de Moçambique, impresso a preto, sobre papel amarelo. Sem filigrana. Este papel, tal como o que foi algumas vezes utilizado para a produção de aerogramas em Angola, apresenta as duas faces com tonalidades diferentes, sendo a mais forte destinada à impressão. Peso 2,0 a 2,6 gr. Impresso na Papelaria Apolo : Empresa Gráfica e Comercial Lda.

Dimensões: 286 x 170 mm. A meio, na frente do aerograma apresenta um rectângulo com a inscrição AEROGRAMA (48,5 x 12,5) Na aba direita, a inscrição 7474 - 68 - APOLO (20,5 mm). Na aba esquerda em baixo, EDIÇÃO DA RMM (13 mm).


Logo desde o início da reocupação do Norte de Angola, se constatou a incapacidade dos Correios de Angola e das estruturas militares existentes em efectuarem de forma eficaz a distribuição de toda a correspondência acumulada e destinada aos militares em campanha, algures no interior da Província.

É neste contexto que era indispensável criar e pôr em funcionamento um serviço militar, que fizesse a recepção e distribuição da correspondência dos militares, mantendo por razões de segurança, o sigilo do local das forças em operações.

Surgia assim, o Serviço Postal Militar que em Angola iniciou a sua actividade em 21 de Julho de 1961.

Com a extensão do conflito a outras áreas desta Província e com o aumento dos efectivos militares, houve necessidade de instalar uma rede de Estações Postais Militares e de Postos Militares de Correio.

Da mesma forma e com os mesmos objectivos, se procedeu à instalação do SPM na Guiné, Moçambique e nos restantes territórios ultramarinos.

Os aerogramas militares, isentos de franquia, editados pelo Movimento Nacional Feminino tiveram grande êxito como forma de correspondência militar, rápida e económica, encaminhados pelo SPM e transportados, na sua maior parte pelos Transportes Aéreos Portugueses - TAP.

O Serviço Postal Militar (SPM) cumpriu, de forma exemplar, a missão de fazer chegar o correio aos militares em campanha durante a Guerra Colonial, de 1961 a 1974.

Logo desde o início da reocupação do Norte de Angola, se constatou a incapacidade dos Correios de Angola e das estruturas militares existentes em efectuarem de forma eficaz a distribuição de toda a correspondência acumulada e destinada aos militares em campanha, algures no interior da Província.

É neste contexto que era indispensável criar e pôr em funcionamento um serviço militar, que fizesse a recepção e distribuição da correspondência dos militares, mantendo por razões de segurança, o sigilo do local das forças em operações.

Surgia assim, o Serviço Postal Militar que em Angola iniciou a sua actividade em 21 de Julho de 1961.

Com a extensão do conflito a outras áreas desta Província e com o aumento dos efectivos militares, houve necessidade de instalar uma rede de Estações Postais Militares e de Postos Militares de Correio.

Da mesma forma e com os mesmos objectivos, se procedeu à instalação do SPM na Guiné, Moçambique e nos restantes territórios ultramarinos.

Os aerogramas militares, isentos de franquia, editados pelo Movimento Nacional Feminino tiveram grande êxito como forma de correspondência militar, rápida e económica, encaminhados pelo SPM e transportados, na sua maior parte pelos Transportes Aéreos Portugueses - TAP.

O Serviço Postal Militar (SPM) cumpriu, de forma exemplar, a missão de fazer chegar o correio aos militares em campanha durante a Guerra Colonial, de 1961 a 1974.


Fonte: Eduardo e Luis Barreiros

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